quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tarde demais



Abriu os olhos mas não quis se levantar, ficou olhando no teto onde tinha colado estrelas. Se afundou mais nas cobertas e levantou resmungando algo. Passou um dia de comum na sua rotina e o observou de longe enquanto ele a olhava fixamente do outro lado do pátio. Certamente queria fazer as pazes com ele, certamente queria ir até ele e dizer muita coisa. Queria pedir desculpas e se desculpar por se irritar com uma coisa tão boba. Mas só estavam brigados a um dia e ela não queria parecer fraca. Queria ser a dona da situação, mostrar que ele também não deveria irritá-la. Quando deu por si ele já estava do lado dela com a mão no seu ombro, começando a dizer algo e o sinal pra entrar pra aula tocou. Disse seca "na saída a gente conversa" (...)
Abriu os olhos e não pode se levantar, suas pernas estavam moles, queria morrer. Não pode acreditar. Como um avc, como morrer assim no meio da aula? Tão sem explicação, tão simples. Sem aviso prévio. A enfermeira media sua pressão, ela não sentia as próprias mãos, seu corpo haveria paralisado. Tarde demais.
Queria poder se desculpar, abraçar e dizer o quanto o amava e o quanta falta ele faria. Queria poder dizer tudo o que sentiu quando o conheceu, o quanto ele era inesquecível. Mas tarde demais, o teatro já estava se fechando. Fecham-se as cortinas.

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